Estudo do Evangelho

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”

(Mateus 7:21)

09 - As Bem-aventuranças - Mt 5.1-12

 

 

Esclareço que não sou especialista no assunto e nem alimento a pretensão de esgotá-lo. Apenas gosto de pesquisar e estudar, de tomar contato e de me inteirar de várias outras concepções, bem como compartilhar o fruto de minhas buscas e descobertas. Mas sempre apresentarei o que o Espiritismo e a sua literatura tem a dizer sobre a questão. Os livros que não pertencerem ao movimento espírita serão assim sinalizados.

 

 

 

(Obs. Textos com maiores detalhes sobre os propósitos, objetivos e características de cada evangelho serão publicados na seção TEXTOS AUXILIARES. Sobre o Evangelho de Mateus e de Marcos já se encontram lançados. Ou demais estão sendo elaborados.)

 

 

  

 

 

Mateus 5:1-12

 

"1. Vendo as turbas, subiu ao monte. Após assentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos,

2. e, abrindo a boca, os ensinava, dizendo:

3. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

4. Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados.

5. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

6. Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque eles serão saciados.

7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles receberão misericórdia.

8. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

9. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

10. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

11. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e [mentindo], disserem todo mal contra vós, por causa de mim.

12. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque é grande a vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram aos Profetas anteriores a vós." [1]

 

 

 

 

 

Lucas 6:17-26

 

"17. Descendo com eles, ficou em pé sobre um lugar plano; uma numerosa turba de discípulos dele e uma numerosa multidão do povo de toda a Judeia, de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom,

18. que vieram para ouvir e serem curados das suas doenças; os atormentados por espíritos impuros também eram curados.

19. E a turba toda procurava tocar nele, porque dele saia poder, e curava todos.

20. E, levantando os olhos para seus discípulos, dizia: Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o reino de Deus.

21. Bem-aventurados vós que tendes fome agora, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós que chorais agora, porque rireis.

22. Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem, e quando vos excluírem, vos injuriarem e repelirem o vosso nome como mau, por causa do filho do homem.

23. Alegrai-vos naquele dia e saltai [de alegria], pois - eis que - [é] grande a vossa recompensa no Céu; pois dessa forma os seus pais deles faziam aos profetas.

24. Todavia, ai de vós, os ricos, porque estais recebendo a vossa consolação.

25. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que estão rindo agora, porque estareis aflitos e chorareis. 

26. Ai de vós, quando todos os homens falarem bem de vós, pois dessa forma os pais deles faziam aos falsos profetas." [1]

 

 

 

Propósitos de seu conteúdo

 

 

Característica dos escritos sapienciais, a bem-aventurança é uma fórmula literária de felicitação - porque é iniciada pelas palavras bem-aventurado(s) –, formada por exclamação que declara ditosa a pessoa ou um grupo delas pelo que são e, em outras situações, pelo que fazem.

 

No Antigo Testamento, várias dessas saudações falam de piedade, sabedoria e prosperidade, sendo encontradas, por exemplo, nos Salmos (1.1-2; 32.1-2; 33.12; 34.8; 65.4; 127.5-6 e 128.1), em Provérbios (3.13 e 8.32-34), no profeta Isaías (56.2) e no livro Eclesiástico (31.8).

 

No Novo Testamento, além de as constantes do Sermão do Monte ou da Montanha, também estão presentes em Mateus (11.6), Lucas (11.28 e 12.37), João (14.22; 20.29), Epístola aos Romanos (4.7-8 e 14.22) e sete delas no Apocalipse (1.3, 14.13, 16.15, 19.9, 20.6 e 22.7-14).

 

Em Mateus, talvez com o intuito de atrair a atenção dos ouvintes, as bem-aventuranças inauguram o Sermão do Monte ou da Montanha (Mt 5.1-7.29), descrevendo os que têm a possibilidade de alcançarem um genuíno contentamento, satisfação e realização na vida, sobretudo por reconhecerem sua necessidade espiritual [2], haja vista que “o Reino do Céu pertence não aos cheios, mas aos vazios”. [3]

 

Constituindo-se num conjunto de bênçãos, Jesus enfaticamente menciona algumas virtudes agradáveis a Deus, invertendo determinadas concepções, o que glorifica os pobres, os que choram, os humildes e os perseguidos.

 

Seguindo, assim, a tônica dos profetas anteriores (Antigo Testamento), temos que essas pessoas, comumente tidas como infelizes e amaldiçoadas, também estão aptas a vivenciarem as bênçãos do Reino, pois ao experimentarem a primeira parte das bem-aventuranças com elevada disposição de espírito (os pobres, os aflitos, os mansos, os famintos de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores e os perseguidos), habilitam-se à segunda: a conquista do Reino dos Céus, o consolo, a herança da terra, a justiça, a misericórdia, a visão de Deus , a denominação de “filhos de Deus” e a recompensa nos Céus. [4]

 

À primeira vista, várias bem-aventuranças parecem contradizer o sentido comum, porém, no contexto da época e dos propósitos dos ensinos de Jesus, são os verdadeiros e fundamentais valores para a vivência do e no Reino de Deus, sendo indispensável que a pessoa os possua integralmente. [3]  

 

Desse modo, as oito bem-aventuranças constantes de Mateus prometem gratificações pela busca de um reino que não é deste mundo (João 18.36), mas que se torna fato no íntimo de cada um (Lucas 17.20-21).

 

A essência da mensagem, portanto, não está em afirmar que ser pobre, desvalido e injustiçado necessariamente torne alguém feliz. Mas, geralmente, são os desfavorecidos e desesperançados que melhor reagem à proposta de consolo nas aflições. [2]

 

De Estudo aprofundado da Doutrina Espírita:

Tais ensinos, de uma beleza sem par e de uma profundidade que abarca todas as lições evangélicas, têm as características da prática da vida, com sabor pessoal para cada um de nós, desde que entendidos em sua alta significação espiritual. A interpretação não deve ser literal, porque “a letra mata, mas o espírito vivifica”.

(...) Assim, "pobres de espírito", "terra", "mansos", "reino dos céus", "justiça" e tantas outras expressões não devem ser entendidas na sua acepção literal hodierna, porque perderam seu primitivo sentido, pelo decurso dos séculos e em função das traduções imperfeitas. [5]

 

De a WIKIPEDIA:

As Bem-aventuranças são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. As Bem-aventuranças revelam também o carácter das pessoas que pertencem ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir este carácter exemplar. [6]

 

De Paul Earnhart :

Talvez não haja verdade mais importante a ser reconhecida sobre as bem-aventuranças do que o fato que elas não são provérbios independentes, que se aplicam a oito diferentes grupos de homens, mas são uma descrição composta de cada cidadão do reino de Deus. Estas qualidades são tão entrelaçadas num tecido espiritual que são inseparáveis. Possuir uma é possuir todas e não ter uma é não ter nenhuma.

(...) O filho do reino é diferente naquilo que ele admira e valoriza, diferente naquilo que ele pensa e sente, diferente naquilo que ele procura e faz. É claro que, antes, jamais houve um reino como este.

Tem havido muitas abordagens do conteúdo específico das bem-aventuranças. Muitos sentem que há um a progressão de pensamento evoluindo através delas, que começa com uma nova atitude para consigo mesmo e para com Deus, passa a uma nova atitude para com os outros, e culmina com a reação do mundo a esta mudança radical. Há certo mérito nesta análise e, se tal esquema nítido coincide ou não com a ordem real das bem-aventuranças, as ideias certamente estão ali. Para uma sociedade governada por algumas concepções errôneas sérias do reino de Deus, as bem-aventuranças fazem duas afirmações básicas. Primeiro, que o reino não está aberto aos que se julgam virtuosos e aos presunçosos, mas ao pecador suplicante e vazio que chega procurando por ele. Segundo, que o reino não é para o "poderoso" que obtém o que deseja pela riqueza ou pela violência, mas para uma companhia de homens pacientes, que abrem mão, não somente de suas vontades, mas até dos seus "direitos", em prol das necessidades dos outros. [3]  

 

 

 

As bem-aventuranças em Lucas

 

 

Neste Evangelho, quatro (04) bem-aventuranças são seguidas de quatro (04) maldições, que acenam para uma mudança de realidade tanto para a vida presente quanto para uma vida futura.

 

Em Mateus, Jesus discursa na terceira pessoa (“Bem-aventurados os...”); em Lucas, dirige-se ao seu auditório (“Ai de vós...”).

 

Paralelo entre as quatro bem-aventuranças e as quatro condenações:

 

·        “Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o reino de Deus.”           

“Todavia, ai de vós, os ricos, porque estais recebendo a vossa consolação.”

 

·        “Bem-aventurados vós que tendes fome agora, porque sereis saciados.”

“Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome.”

 

·        “Bem-aventurados vós que chorais agora, porque rireis.”

“Ai de vós, os que estão rindo agora, porque estareis aflitos e chorareis”

 

·        “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem, e quando vos excluírem, vos injuriarem e repelirem o vosso nome como mau.”

        “Ai de vós, quando todos os homens falarem bem de vós, pois dessa forma os pais deles faziam aos falsos profetas.”

 

De Carlos Torres Pastorino:

Lucas apresenta-nos quatro bem-aventuranças e quatro condenações em paralelo, visando unicamente à personalidade humana em suas vidas sucessivas. Sabemos, com efeito, que, de modo geral, as encarnações oferecem alternância de situações: os ricos renascem pobres e vice-versa (1Sm 2:7-8), os caluniados renascem louvados e vice-versa. Essa ideia foi bem apreendida por Lucas, quando transcreveu em seu Evangelho o Cântico de Maria (Lc 1:52-53).

Que não se referia a esta mesma vida de um só transcurso está claro, porque em uma mesma existência não se dão, absolutamente, tais transformações. E também não podia referir-se à vida "celestial" de um paraíso ou "céu" de espíritos, porque, uma vez lá, ninguém pensará em fartar-se de iguarias para vingar-se da fome que aqui passou; e mesmo que aqui se tenha fartado, não ligará a menor importância à falta de alimentos físicos, desnecessários ao espírito. Logo, a única conclusão lógica aceitável racionalmente é a recompensa ou castigo que nos virão NESTA MESMA TERRA, numa vida posterior, com um corpo novo. E o ambiente antioqueno *, todo ele reencarnacionista, compreenderia bem essas realidades.

(...) Se não entendêramos o sentido real da reencarnação, teríamos nesse resumo uma tirada demagógica, para conquistar simpatizantes e adeptos, pois são declarados felizes exatamente os da massa explorada e escravizada, enaltecendo-se como coisas ótimas a pobreza, a fome, a dor (doença) e a rejeição dos homens. E as ameaças atingem precisamente os elementos exploradores e gozadores: os ricos, os de mesa farta, os alegres (sadios) e os famosos.

De qualquer maneira, é uma versão personalística expressa para aqueles que ainda se apegam a seu eu pequenino e passageiro, julgando-o seu Eu real. É uma consolação interesseira, para aqueles que ainda dão valor ao que é externo a si mesmos: o consolo dos outros, a posse dos bens materiais ou não, uma boa mesa, e os elogios dos homens.

Para Lucas, neste passo, Deus é a Lei Justiceira que premia e pune, que dá e tira, tal como O concebem as personalidades presas ao transitório irreal de um mundo passageiro, do qual eles se acreditam "partes integrantes". Personalidades que ainda não se libertaram do apego à Terra, às condições exteriores de bem-estar financeiro, físico, emocional ou de apoio das outras criaturas.

Acredite ou não na reencarnação, a massa humana se encontra nesse estágio e busca ansiosamente essas mesmas coisas, por todos os meios, materiais e espirituais. Nada interessa ao rebanho senão, em primeiro lugar a saúde, depois o dinheiro para viver, a seguir a tranquilidade emocional (amores) e enfim a "boa cotação" na opinião pública. Esses são os pedidos mais frequentes e angustiosos, feitos nas preces dos crentes de todas as religiões.

Muito diferentes as palavras de Mateus. Transcrevendo os ensinamentos profundos de Jesus, relativos à individualidade - que não dá a menor importância a coisa alguma que venha de fora, que seja externo, quem presta a mínima atenção ao que dizem "os outros". [7] 

 

(* “Relativo ou pertencente a Antioquia, antiga capital da Síria, ou às doutrinas teológicas associadas com a Igreja cristã de Antioquia nos séculos IV e V, as quais visavam seguir um curso médio entre a interpretação rigorosamente literal e a alegórica das Escrituras.”) [8]

 

 

 

Bem-Aventuranças

 

"Tiago, filho de Salomé e irmão de João, foi um dos grandes discípulos de Jesus. Queria fazer corresponder às regiões espirituais elevadas o seu modo de ser e desejava que a maior parte do seu tempo fosse dedicada ao aperfeiçoamento íntimo. Meditava, sem perda de tempo, em como fazer o melhor sempre, à procura da perfeição.

 

Quando ouviu Jesus falar das bem-aventuranças, uma esperança cintilou em seu coração e, junto dela, o prazer de viver. Contudo, ouvia um sopro na intimidade da alma, a dizer: "Isso tem um preço". E realmente tem um preço, não na área comercial dos homens, mas o ouro do sacrifício, da educação, da disciplina e do trabalho constante no aperfeiçoamento espiritual, enfim, na plena domesticação das forças da alma e do corpo.

 

Tiago acreditava na luz, mas sabia que para chegar até lá teria de vencer as trevas que aparecem com inúmeras características.

 

(...) O Cristo, dentro do seu modelar comportamento, manifesta-se com satisfação:

 

- Tiago! As Bem-aventuranças, meu filho, alcançam na Terra sempre os sofredores que conhecem, na dor, lições indispensáveis de aprimoramento espiritual. As Bem-aventuranças no mundo aproximam-se daqueles que, mesmo diante de duras provas, dão todos os testemunhos de fidelidade, de esperança e de amor, como o prêmio dos céus. As Bem-aventuranças descem aos homens para confortar os que vêm marcados ao mundo por doenças que vencem o tempo e os que acompanham até o túmulo e que sabem, com coragem, suportá-las pacientemente, tirando, desse estado, normas de vida singular, de maneira a nunca esquecer a bondade do Criador. Não podes ser bem-aventurado, ou alcançar as regiões resplandecentes, como parte integrante dos anjos, se não passares por testes que te comprovem as qualidades. Há muitas pessoas que se revoltam com facilidade diante da dor, mas esquecem-se ou ignoram que somente ela desabrocha na alma o esplendor da luz celestial. A tendência de quase todo ser humano é fugir à disciplina, por desconhecer seus benefícios. É muito agradável a quem ouve, falar com uma pessoa cheia de delicadeza, de cujos lábios desprende sempre um sorriso acompanhado de amor. Mas por certo não atina com os modos pelos quais essas posturas foram aquinhoadas e quanto trabalho custaram essa conquistas. Uma joia, depois de pronta, é muito valiosa e costuma juntar em torno de si muita gente a admirá-la. Porém, à procura desse tesouro, poucos são os que persistem, entregando-se a duros trabalhos consecutivos, às vezes até durante toda a existência para pôr as mãos em tais preciosidades.

 

(...) – Meus filhos, que Deus vos abençoe. Eu espero que vós todos sejais bem-aventurados por tudo que fizerdes, em tudo o que viverdes e que, ao lado da execução da vida, esteja firme a vigilância, de sorte a todos viverem bem e, acima de tudo, desfrutarem a vida com sabedoria e amor. (...) Igualmente ser-lhes-ão dadas todas as bem-aventuranças, desde quando resolverem conquistá-las pelo amor. Toda manifestação contrária às leis de Deus são ilusões passageiras que o tempo nos faz esquecer. Mas é indispensável que, no momento em que estais vivendo, saibais como deveis viver.” [9]

 

 

 

 

 

AS BEM-AVENTURANÇAS

 

UM TRECHO DO SERMÃO DO MONTE

 

“No mundo há alegrias, porém mais existem dores e tristezas. Jó dizia que “o homem vive pouco tempo na Terra e a sua vida é cheia de tribulações” – Brevi vivens tempore repletur multis miseriis.

 

A Escritura chama a Terra um Vale de Lágrimas e compara a vida do homem à do operário que apenas à noite come o seu pão banhado de suor.

 

Sentimo-nos, neste mundo, vergados ao peso da dor; hoje, amanhã ou depois, ela não deixa de visitar-nos. O peso dos infortúnios acompanha a Humanidade em todos os séculos.

 

O homem vem ao mundo com um grito; um gemido de dor é o seu último suspiro!

 

Do berço ao túmulo, a estrada da vida está semeada de espinhos e banhada de lágrimas! Quantas ilusões, quantas amarguras, quantas dores passamos neste mundo!

 

A dor é uma lei semelhante à da morte; penetra no tugúrio do pobre como no palácio do rico. Neste mundo ainda atrasado, onde viemos progredir, a dor parece ser a sentinela avançada a nos despertar para a perfeição.

 

Max Nordau dizia: “Ide de cidade em cidade e batei de porta em porta; perguntai se aí está a felicidade, e todos vos responderão. Não; ela está muito longe de nós!”

 

Mas se é verdade que o Senhor permitiu que os sofrimentos nos assaltassem, não é menos verdade que também nos proporciona a esperança, com que aguardamos dias melhores. “Bem-aventurados os que sofrem, pois serão consolados.”

 

A esperança é a estrela que norteia as nossas mais belas aspirações; é a estrela que ilumina a noite tenebrosa da vida, e nos faz vislumbrar a estância de salvamento. A vida na Terra é um caminho que nos conduz às paragens luminosas da Vida Eterna; não é um repouso, mas uma preparação para o repouso.

 

Paulo, o Apóstolo dos Gentios, recordando-nos numa das suas luminosas Epístolas a vida real, disse: “Dia virá em que despiremos a veste mortal para vestir a da imortalidade”.

 

Atravessamos a existência na Terra como o soldado atravessa um campo de fogo e de sangue, e os bravos e os fortes de espírito cravam nas muralhas o seu estandarte e levantam o grito de vitória!

 

É isto o que nos ensina o Espiritismo com a sua consoladora doutrina.

 

Tomado de compaixão pelo mundo, o Cristo desce das alturas, senta-se

sobre um alto monte, atrai a si multidões de desventurados e começa o seu monumental sermão com as consoladoras promessas:

 

“Bem-aventurados os pobres, os aflitos, os que choram, porque deles é o Reino dos Céus!” A “palavra boa”, a esperança, proporciona sempre resignação, coragem e fé aos desiludidos das promessas do mundo.

 

O homem que confia e espera em Deus, vê nos sofrimentos o resgate de suas faltas, o meio de se purificar da corrupção! É preciso ter fé, é preciso ter Esperança. Dizei ao moribundo que, em verdade, não morrerá, e ele, animado pela vossa palavra, enfrentará a morte e não sofrerá o seu aguilhão!

 

A esperança é a consolação dos aflitos, a companheira do exilado, a amiga dos desventurados, a mensageira das promessas do Cristo!

 

Perca o homem tudo: bens, fortuna, saúde, parentes, amigos, mas se a esperança, filha do Céu, o envolve, ele prossegue em sua ascensão para o bem, para a vida, para a imortalidade!

 

Do alto do monte, tomado de tristeza pelas desventuras humanas, o Senhor ensinava às multidões os meios de conquistar, com o trabalho por que passavam, o Reino dos Céus. E a todos recomendava resignação na adversidade, mansidão nas lutas da vida, misericórdia no meio da tirania, e higiene de coração para que pudessem ver Deus. Nessa autêntica oração, o Senhor já previa que seriam injuriados e perseguidos todos aqueles que, crendo na sua palavra, encontrassem nela o arrimo para suas dores, o lenitivo para seus sofrimentos; mas recomenda, antecipadamente, não nos encolerizarmos com o mal que nos fizerem, para que seja grande o nosso galardão nos Céus. Disse mais: que exemplificássemos a nossa vida como os profetas que nos precederam, porque “bem-aventurados têm sido todos os que são perseguidos por causa da justiça”.

 

Lutemos contra a dor, aproveitando essa prova que nos foi oferecida, para a vitória do Espírito, liberto dos liames terrenos!

 

Empunhemos a espada da fé e o escudo da caridade, com todos os seus atributos, e o Reino de Deus florescerá em nós, como rogamos diariamente no Pai Nosso, a prece que Jesus nos legou.” [10]

 

 

 

 

Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br

 

 

 

 

Referências

 

[1] DIAS, Haroldo Dutra (Trad.). O novo testamento/ tradução de Haroldo Dutra Dias. 1. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013.

 

[2] TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. O famoso Sermão do Monte. Disponível em: https://www.jw.org/pt/publicacoes/livros/jesus/ministerio-na-galileia/sermao-do-monte/. Último acesso em 22.03.2019. (literatura não-espírita)

 

[3] EARNHART, Paul. O Sermão da montanha. Extraindo os Tesouros das Escrituras: Exposições Práticas. 2. ed. Brasileira. Publicada em 1997 por Dennis Allan. p. 6.  Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/som.htm. Último acesso em 31.05.2019. (literatura não-espírita)

 

{4] GOT QUESTIONS. O que são as bem-aventuranças? Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/bem-aventurancas.html. Último acesso em 31.05.2019. (literatura não-espírita)

 

[5] SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de renovação. In: MOURA, Marta Antunes de Oliveira (Org.). Estudo aprofundado da doutrina espírita: cristianismo e espiritismo. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do espiritismo/organizado por Marta Antunes de Oliveira Moura. 1. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2015. Livro 2. Módulo II. Roteiro 1. p. 49.

 

[6] WIKIPEDIA. Sermão da Montanha. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Serm%C3%A3o_da_Montanha. Último acesso em 20.03.2019. (literatura não-espírita)

 

[7] PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho. Publicação da Revista Semanal. Rio de Janeiro. 1964.  Volume 2. p. 86-87. Disponível na Internet em: http://bvespirita.com/Livros-C.html. Acessado em 26.05.2018

 

[8] DICIO Dicionário Online de Português. Antioqueno. Disponível em: https://www.dicio.com.br/antioqueno/. Ultimo acesso em 01.06.2019. (literatura não-espírita)

 

[9] SHAOLIN (espírito); MAIA, João Nunes (psicografado por). Ave luz. 10. ed. Belo Horizonte: Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1999. p. 271-277.

 

[10] SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus. 17. ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 2001. p. 156.

 

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. (literatura não-espírita)

 

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2003. (literatura não-espírita)

 

OLIVEIRA, Therezinha. Estudos Espíritas do Evangelho. 5. ed. Campinas, SP: Centro Espírita “Allan Kardec” – Dep. Editorial, 2001.  

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