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“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”
(Mateus 7:21)
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”
(Mateus 7:21)
Até que ponto nossos conflitos familiares são tão sérias divergências que trazemos do passado? Ou será o nosso estado de ânimo o maior responsável pela percepção positiva ou negativa que possamos alimentar em relação às pessoas e às circunstâncias?
De acordo com os postulados espíritas, o lar terrestre é o local onde os espíritos encarnados estão se encontrando para as necessárias realizações, ou se reencontrando para os inadiáveis acertos, em virtude de certos compromissos que uns assumiram perante outros no decorrer das sucessivas encarnações.
Torna-se compreensível, portanto, o fato de a grande maioria dos relacionamentos familiares carecerem de certa harmonia, pois cada um de seus componentes pode possuir realidades íntimas bastante específicas e, nesse ambiente, exteriorizar muito dos conflitos e necessidades que ainda carrega.
Todavia, aquele que se empenhe por sustentar o equilíbrio e o bom senso perante as situações difíceis e desagradáveis, oferece ao conjunto sua contribuição pacificadora. Se, por outro lado, se julgar no direito de esbravejar e de se impor ante as naturais divergências de pontos de vista e opiniões, certamente acabará por provocar uma confusão ainda maior.
Sendo assim, um questionamento se mostra oportuno: até que ponto os naturais contratempos da vida familiar referem-se a complicados reajustes que trazemos de vidas pretéritas? Ou, não será que esses problemas estão sendo agravados, em razão da excessiva necessidade de certas criaturas em, por exemplo, fazerem prevalecer suas vontades e pontos de vista, em superdimensionarem as dificuldades, em não compreenderem e aceitarem as pessoas pelo o que elas conseguem ser, em não saberem lidar com seus conflitos e expectativas?
Estudiosos do comportamento humano já constataram que todos os indivíduos, periodicamente, passam por variações de humor. Assim, quando nos sentimos em paz, até conseguimos encarar as dificuldades com bastante otimismo. E nesse “alto astral”, como se torna fácil ter apreço pelo cônjuge e filhos ou ser agradecido pela nossa família e nosso lar!
Porém, quando nosso estado de ânimo se encontra em baixa, quantas são as vezes em que não queremos conversa com ninguém, em que não achamos graça em nada, em que nos aborrecemos com tudo e com todos? Muito embora amemos imensamente nossos filhos, podemos ficar incomodados com toda a atenção que eles requerem. E as imperfeições do cônjuge? Também poderão ser ressaltadas. Não será ele, então, o maior “culpado” pelos problemas domésticos? O interessante de se notar é que, nesse estado tão depressivo, a mesma vida, com idênticas circunstâncias, poderá parecer drasticamente outra, com um peso insuportável!
Logo, é o nosso estado de humor que mais influencia nossa percepção e a maneira de conduzir os naturais problemas do cotidiano, principalmente quando eles ocorrem em nosso lar, independentemente dos conflitos anteriores que possam existir entre alguns familiares.
O escritor espírita Rodolfo Calligaris, ao ressaltar a relevância da variação de humor, principalmente no relacionamento conjugal, aconselha:
É de toda conveniência, portanto, que os esposos aprendam a discernir esses ciclos temperamentais, no outro e em si mesmo.
No outro, para desculpar-lhes os amuos, os azedumes, os “contras”, as impertinências, etc., na certeza de que em breve isso passará, e tudo voltará às boas. Em si mesmo, para ter o cuidado de não tomar nenhuma atitude mais drástica, da qual, depois, muito terá de arrepender-se.
É preciso que cada um dos cônjuges, ao perceber o mau-humor do outro, procure amenizar a situação, evitando, a todo custo, agastar-se também, para não suceder que, duplicado, esse mau sentimento faça a casa ir pelos ares. [1]
O Espírito Thereza de Brito também segue semelhante linha de raciocínio e de compreensão e assim se expressa:
Ansiando por crescer, na convivência com os ideais enobrecidos dos Espíritos Luzeiros, aprenda a dialogar para solucionar problemas, conversando equilibradamente, para o bem geral; faça o possível para não cobrar afeição dos amores ou reclamar consideração que, talvez, você ainda não tenha feito, nem esteja fazendo nada por merecer. Dedique-se a agradecer as coisas mínimas com que seja beneficiado em casa, e a ser gentil com os entes queridos e com os auxiliares domésticos, presenteando-os com a sua alegria natural, com a sua fraternidade, sem a hipocrisia que envenena a linfa da vida.
Se é correto que no ambiente do lar você tem o território livre para que se mostre como é, para desenvolver-se, não se pode olvidar, entretanto, que não cabe aos outros suportar seus impulsos negativos ou sua desastrada invigilância, por fazerem parte de sua equipe doméstica. [2]
Relaxe. Até certo ponto somos todos assim, um pouco de Médicos e Monstros. De certa maneira, nosso humor é o ponto de partida para nossa experiência, não seu efeito. Nosso humor determina a maneira como vemos e vivenciamos nossas vidas. Quando nos deixamos abater, a vida parece pior, muito mais difícil. Para reforçar a idéia de quão significativos seus humores são, tenha em mente como a vida parece diferente, de uma hora para outra, dependendo do seu clima.
Por mais que pareça simples, aprender a detectar qual o nosso estado de espírito e aprender a lidar com nossas alterações de humor pode fazer uma grande diferença na qualidade da vida e pode baixar o nível de nossa mania de defesa de modo significativo. O mais importante é aceitar o fato de que as alterações de humor são um dado da vida e entendê-las como absolutamente inevitáveis, bem como a maneira como você experimenta seu baixo-astral. Lembre-se, não é a vida que mudou subitamente para pior na última hora, apenas seu estado de espírito.
Reconhecer isso pode ampliar sua perspectiva. (...) Pode aprender a culpar seu humor, em vez de sua vida ou família, por seus problemas. Tenha em mente que se algo fosse realmente responsável por nossos sentimentos negativos, nos incomodaria o tempo todo. Nada, no entanto, recai nessa categoria. A verdade é que a grande maioria das coisas que nos incomodam em nossa depressão são coisas com que conseguimos lidar perfeitamente em estados mais elevados de espírito. [3]
Seja um exemplo de paz
O ditado ‘faça o que digo, não o que faço’ não funciona muito bem em casa! O que funciona é o oposto: ‘faça o que faço, não o que digo’. Quer você viva sozinho, ou com outra pessoa, ou várias, a maneira mais eficaz de tornar o lar um ambiente pacífico é tornar-se um exemplo de paz.
O clima emocional no qual você vive começa em você – como o meu começa em mim. Se você está agitado, nervoso, frenético e frustrado, é absurdo esperar que as outras pessoas em sua casa sejam indiferentes. Em vez disso, é provável que elas pisem em ovos para não desagradá-lo. Qualquer negatividade que você criar afetará em algum nível os outros em sua casa (sem mencionar você mesmo). Isso não quer dizer que seja sua culpa se sua casa não tem paz, mas que, na maior parte das circunstâncias, se você esperar que os outros deem o exemplo que gostaria, vai ter que esperar muito!
Quando você é calmo, paciente, amoroso, no entanto, você obtém o melhor de tudo o que o cerca. Ao ser um exemplo de paz, você abre a porta para os outros serem pacientes, compassivos e graciosos. Em vez de estar aborrecido com os altos e baixos da vida diária, você cria um ambiente em que não há problemas em seguir o fluxo. E quanto mais calmo você for, mais fácil fica fazer os necessários ajustes às complicações e desafios da vida diária. Ao se manter calmo, você elimina os desvios mentais que interferem com sua sabedoria e julgamento, tornando mais fácil enxergar soluções em vez de problemas.
O primeiro passo para se acalmar é perceber essa meta como prioridade em sua existência. Ao invés de esperar que os outros tomem a dianteira ou culpá-los pelo caos em sua casa, tome a decisão de tornar a paz sua prioridade – decida que é essa meta que você deseja alcançar. (...) Creio que descobrirá que quando a paz é a meta principal, todo o resto encontra o seu lugar e se torna muito mais fácil de lidar. Você estará acenando com um patamar de vida mais pacífico, o que, por sua vez, reduz o caos de sua vida ainda mais. Tornar-se mais calmo talvez não aconteça de uma hora para outra, mas é certamente um objetivo que se deve tentar alcançar. Comece agora, você pode fazer as coisas que o levem nessa direção. [4]
Silvia Helena Visnadi Pessenda
REFERÊNCIAS
[1] CALLIGARIS, Rodolfo. A vida em família. 9. ed. Araras, SP: IDE Editora, 1983. Cap. “As variações de humor”. p. 102-103.
[2] BRITO, Thereza de (espírito); TEIXERIA, José Raul (psicografado por). Vereda familiar. 1. ed. Niterói, RJ: Editora Fráter, 1991. Cap. 4. p. 26.
[3] CARLSON, Richard. Não faça tempestade em copo d’água com a família: maneiras simples de evitar que as responsabilidades diárias e o caos doméstico tomem conta de sua vida. Tradução de Joana Mosela. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. Cap. 43. p. 148-149. (literatura não-espírita)
[4] Idem. Cap. 91. p. 283-284.