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“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”

(Mateus 7:21)

Empatia

 

 

Jesus era uma pessoa empática? No que consiste a empatia? Ela consegue melhorar nossas relações interpessoais? É-nos possível seu aprendizado?

 

 

Jesus, ao dizer: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28) [1],  posicionou-se como alguém que acolhe o outro em suas dores e dificuldades,  fazendo isso, no entanto, de uma maneira muito especial.

 

Segundo os Evangelhos, Ele nunca desprezou quem quer que fosse. Sempre acolheu, entendeu, valorizou, consolou e encorajou todos aqueles que, de uma forma ou de outra, solicitavam Sua atenção e ajuda. Também, jamais puniu as criaturas em seus deslizes: primeiro porque compreendia a fragilidade e falibilidade inerentes à condição humana  e, segundo, porque vislumbrava nos erros uma possibilidade de aprendizagem e mudança interior dos próprios faltosos.

 

A sua disposição para com os outros foi tão intensa e marcante, que o Evangelho de Mateus registra como sendo essas as Suas palavras: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossas almas.”  (11:29-30)

 

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A exemplo do Cristo, quando um indivíduo deseja verdadeiramente socorrer o outro em seus embaraços e dificuldades, é necessário que adote uma postura de acolhimento e compreensão, nunca de condenação. Mas para que esse comportamento se torne viável, dentre as virtudes necessárias, é imprescindível deixar-se conduzir também pela empatia.

 

Segundo definição, a empatia é um “estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta está sentindo.” [2]

 

Empatia é, portanto, sinônimo de uma profunda e penetrante compreensão entre as pessoas, e ninguém na História evidenciou-a de maneira tão enfática quanto Jesus. Como exemplo disso, temos Seu encontro com uma mulher samaritana, junto ao poço de Jacó, na cidade de Sicar. (Jo 4:5-30)

 

Ao estabelecer com ela um breve diálogo, Jesus percebeu os conflitos que aquela criatura carregava n’alma, porém, não a condenou por ela já haver tido cinco maridos, mesmo reconhecendo que o atual companheiro também não se encontrava na condição de cônjuge.   

 

Para que ela pudesse matar sua sede – não a física, mas a moral e emocional – ofereceu-lhe “água viva”. Naquele tempo, o termo referia-se à água corrente ou de manancial. Assim, o Cristo a utilizava como símbolo para enfatizar o que a sua ajuda podia fazer àquele que crê: “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.”

 

E qual foi a reação da mulher samaritana após esse encontro? Dirigiu-se à cidade e disse a algumas pessoas que foi encontrando pelo caminho: “Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?”isto é, um enviado de Deus, um profeta como Moisés. Ouvindo isso, “saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.”

 

Muito embora Jesus fosse realmente um enviado de Deus para cumprir uma missão de grande relevância, a Sua capacidade de penetrar na problemática do outro e, empaticamente, perceber suas dores e aflições, era bastante grande. A palavra empatia, derivada do grego empátheia, que significa “entrar no sentimento”, era uma de Suas características dominantes, daí a força dessa comunhão de sentimentos.

 

Mas, a compreensão e a não condenação do comportamento alheio não implica pactuar com o outro – ou seja, ser conivente, ou concordar com suas escolhas e opções. Tal compreensão significa saber dizer, no momento mais propício, a palavra que acalma, encoraja e alerta, contribuindo para que o outro avalie melhor e entenda mais completamente os dilemas morais e conflitos emocionais que ainda prevalecem em seu ser.

 

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A empatia – essa capacidade de ver e sentir pela ótica do outro – está, dessa forma, intrinsecamente associada à generosidade nos julgamentos.

 

No entanto, julgar uma ação é diferente de julgar o indivíduo que erra. Posso julgar e considerar, por exemplo, a prostituição moralmente errada, mas não devo julgar a criatura prostituída. E por que não devo proceder dessa maneira? Porque, ao julgar a pessoa, inevitavelmente lavro sentenças: errada, culpada, pecaminosa...

 

O Espírito Joanna de Ângelis adverte:

 

A questão do julgamento das faltas alheias constitui um grave cometimento de desumanidade em relação àquele que erra.

O problema do pecado pertence a quem o pratica, (...).

A tolerância, em razão disso, a todos se impõe (...), compreendendo as dificuldades do caído, enquanto lhe distende mãos generosas para o soerguer.

O julgamento pessoal, que ignora as causas geradoras dos problemas, demonstra o primitivismo moral do homem ainda “lobo” do seu irmão.

(...) Tem compaixão de quem cai. A consciência dele será o seu juiz.  [3]

 

Quando não usamos da benevolência nas apreciações que fazemos das atitudes de alguém, pensamos “a respeito dele”. E qual a proposta da atitude empática? Pensar e sentir “com ele”. 

 

Obviamente, o julgamento recriminador não favorece em nós um estado de receptividade emocional. E, com essa barreira íntima que nós mesmos estabelecemos, não prestamos a devida atenção às pessoas e nem participamos de suas situações, notadamente com relação ao amparo que deveria ou que poderia ser ofertado por nós.

 

O Evangelho segundo o Espiritismo enfatiza:

 

A censura lançada sobre a conduta de outrem pode ter dois motivos: reprimir o mal ou desacreditar a pessoa cujos atos se criticam: este último motivo não tem jamais desculpa, porque é da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, uma vez que disso deve resultar um bem, e sem isso o mal não seria jamais reprimido na sociedade; o homem, aliás, não deve ajudar o progresso de seu semelhante? [4]

 

Assim, quando nos ocorrer a necessidade de censurar alguém, torna-se imprescindível conduzir nossa crítica de forma a despertar, alertar e ajudar aquela pessoa. Pode ser que ela não esteja plenamente consciente da gravidade de suas escolhas e opções e, assim, um alerta de nossa parte poderá ser de extrema relevância! Pode acontecer de seu discernimento talvez se encontrar prejudicado por falsas expectativas e determinadas ilusões. De quanta valia não poderá representar a colaboração de uma percepção diferenciada de nosso ponto de vista?

 

Fiquemos com as conselhos do escritor espírita Jason de Camargo, quanto ao desenvolvimento do sentimento empático:  

 

Como a empatia conduz a pessoa a um estado de solidariedade e esta virtude é o caminho para extirpar o egoísmo, é interessante desenvolvê-la da melhor maneira possível. Veja, a seguir, alguns passos:

– A base da empatia é a autoconsciência. Significa dizer que o conhecimento de nossas próprias emoções auxiliará a perceber as emoções e os sentimentos dos outros.

 – Observe os outros com os olhos de bondade. Acompanhe seus gestos, sua voz e suas expressões corporais com pensamentos de bondade.

 – Tente entender o porquê de seus atos; eles refletem sua situação interior. Como agiríamos no seu lugar? Tente vestir sua pele.

– Seja interessado e amigo. Suas ações muitas vezes escondem as preocupações internas;

– Habitue-se a ver com os olhos da alma, para que você  possa ver o que a alma do outro está sentindo. [5]

 

 

Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

[1] Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

 

[2] Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

 

[3] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Jesus e atualidade. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada. Cap. 5.

 

[4] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. X, item 13.

 

[5] CAMARGO, Jason de. Educação dos sentimentos. 5. ed. Porto Alegre: Letras de Luz, 2003. Cap. 12.

 

ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). O homem integral. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada.

 

HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). A imensidão dos sentidos. 3. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2000.

 

______. Os prazeres da alma. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora. 2003.

 

­­______. Renovando Atitudes. 2. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora. 1997.

 

MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as sombras: teoria e prática da doutrinação. 16. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2002. 

 

NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Psicologia do espírito. 1. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2000.

 

______. Psicologia do evangelho. 2. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2001.

 

 

Literatura não-espírita

 

BAKER,  Mark W. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. 3. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

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